segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ode ao fim


Onde está aquele que beijou-me a madrugada?
Fez-me a felicidade, enquanto o céu a clarear
Desapareceu antes que pudesse me notar
Deixando apenas sua marca naquela almofada

A rosa que esqueceu foi tua lembrança, eu sei
Ainda hoje recorda-me intensamente o teu perfume
Os beijos em minha pele já virou teu costume
Teu corpo foi o horizonte em que me deitei

Se te aproximas e de vergonha eu me recolho
E ao tocar-me, avanço tal qual homem faminto
É porque tua presença ataca-me o instinto
Faz-me então, casar com as cores do teu olho

E quando disser que chegou a hora da partida
Chorarei, quem sabe, o doloroso luto sem fim
Porque inteiramente te vivias dentro de mim
E porque levarás contigo toda a minha vida

Gustavo Leão

sexta-feira, 30 de março de 2012

Mesmo estando tão distante
Sabes se manter presente
Diz que sou o seu amante
Seu amor é Paciente.

Quando meu choro é sem fim
Me ofereces ombro amigo
Ficas sempre junto a mim
Amo tanto estar contigo

Quando o medo me abate
Tu seguras minha mão
Tua Paz entao me invade
Repousa meu coração

Se a noite é tenebrosa
Me abraças e me esquentas
Sinto teu cheiro de rosas
E meu corpo não aguenta

Quando digo que te odeio
Tu me dizes que me ama
Me suportas sem rodeios
És um anjo em forma humana

Gustavo Leão

segunda-feira, 26 de março de 2012

Quem teve tamanha ousadia?
Ordenando ao sol que nascesse,
Que o azul do céu aparecesse,
E a Luz ofuscasse a monotonia?

Foi Deus, acaso quem permitiu à Lua 
Guardar-se do meu sepulcro particular
Despertando-me deste 'sem fim' de sonhar
E sair, com peito translucido, à rua?

Quem abriu a porta de minha varanda
Tirou-me, concentrado, do meu alento
Levando-me embora, na companhia do vento
Para brincar com as árvores de ciranda?

Quem me despiu e, nu, deitou-me em meio a relva?
Como se fosse eu quem merecesse uma medalha
Rasgou-me por inteiro, a minha mortalha
Ordenou-me a fugir do mundo e viver na selva

Ficarei aqui, portanto, sozinho assim
Farei de meu sorriso, toda minha beleza
Viverei em meio à Natureza
e a Natureza viverá inteira dentro de mim!

Gustavo Leão

sexta-feira, 23 de março de 2012

Acorda, vem olhar a Lua...Que Lua? 
Porventura não percebeu que é dia?
Te enches assim, entufando-te de ironia
Ou não queres partilhar a tristeza que é só Tua?

Companheiro, entenda-me o instante sereno
Em que a nostalgia me assombra a alma
Neste dia quente, sem vento e sem calma
A saudade me espeta, afoga-me como um veneno

Não te compreendo, amado amigo
Do que estás a falar com as lágrimas a escorrer?
Falavas tanto da vida, do riso e pareces morrer...
O que te incomoda? O que te deixas aflito?

Não me entendes porque ainda não viveu
Nem adquiriu a experiência que tão somente necessitas
Tens medo de amar e desde sempre tu evitas
Não compreenderás a dor de um amor que morreu.

Se acaso me lamento, e desato da garganta o nó
É porque a saudade me espreme, por inteiro, os pulmões
E onde vivo agora, um inferno cheio de ilusões
Apenas aumenta a sensação e a certeza de que estou só.

Não te assombres, nem te assuste com minha situação
Mesmo que me atentes não poderás me compreender
Sou como o Sol, que de frente não se pode ver
Só Deus consegue sondar meu coração.

Gustavo Leão
Certas horas do dia, a paz me abandona
Como se em mim apenas metade existisse
Meu coração, por inteiro, fica tão triste
E um grito visceral me vem à tona

Quem pensaria que nessa etapa da vida
Seria eu a arrepender-me de ter abandonado
Um amor 'quase-perfeito' tão bem achado
E ter criado, dolorosamente, a tal partida

Vez ou outra, ansioso, moído já de saudade
Controlo em mim uma incontrolável vontade
De embarcar no avião e ir ao teu encontro

Mas o medo certeiro tao logo me paralisa
Não conseguirei mais ultrapassar nossa divisa
Decerto não suportaria esse nosso confronto


Gustavo Leão

quarta-feira, 14 de março de 2012

Beija-me os lábios com toda serenidade
Exatamente doce e na cabível medida
Como, quem sabe, fosse beijo de despedida
Desatando-me o nó da tua virilidade

Faz-me cócegas, forçando-me a risada
Cruzando-nos em um laço as nossas pernas
Despenco, rendido em inocência fraterna
E roça-me o corpo por toda a madrugada

A tua língua ao passear em meu corpo
Me inflama em gasolina o corpo morto
Me acende em brasa, labaredas de fogo
E me alcança, pervertido, o teu escopo

Nosso leito tornará tal qual verde relva
Os corpos sem raízes rolarão unidos
Tomar-se-ão como fossem dois maridos
Consumindo-se os corpos, duas feras da selva

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ausência e Tesão

Onde fostes, homem tão amado?
De mim teu cheiro se ausentou
Nada em meu corpo, enfim, restou
Exceto este coração apertado

De tão distante...teu coração nem ouço
Procuro em areias o tempo aguardado
A libertar-me deste peito tão pesado
Essa saudade, irremissível calabouço

Fico a imaginar teu retorno tao desejado
Como estará teu corpo? cheiroso, suado?
Anseio por fazer-me então amado
Correrei veloz a me jogar em teus braços.

Quisera eu tomar-te com fúria desmedida
O corpo, tal qual, cobertor de pele viva
Grudar-te ao meu, com cola de Saliva
Costurados, para sempre, na linha da vida

Contrastando-me o corpo, esta noite fria
Queimo a pele (e o  osso) de vontade insaciável
Tendões e nervos aguardam o inevitável:
Te espero em minha cama até o fim do dia.

Gustavo Leão